026. O amor como graça
Ensaio exclusivo para os apoiadores da newsletter. No texto "Era silencioso o amor", Bartolomeu Campos de Queiroz nos brinda com um elogio poético dos amores familiares.
“Era silencioso o amor. Podia-se adivinhá-lo no cuidado da mãe enxaguando as roupas nas águas de anil. Era silencioso, mas via-se o amor entre os seus dedos cortando a couve, desfolhando repolhos, cristalizando figos, bordando flores de canela sobre o arroz-doce nas tigelas. Lia-se amor no corpo forte do pai, no seu prazer pelo trabalho, em sua mansidão para com os longos domingos. Era silencioso, mas escutava-se o amor murmurando – noite adentro – no quarto do casal. A casa, sem forro, deixava vazar esse murmúrio com aroma de fumo e canela, que invadia lençóis e dúvidas, para depois infiltrar-se por entre telhas. Experimentava-se o amor quando, assentados no calor da cozinha – pai e mãe – falavam de distâncias, dos avós, das origens, dos namoros, dos casamentos. E, quando o sono chegava, para cada menino em cada tempo, era o amor que carregava cada filho nos braços para a cama, ajeitando o cobertor por sob o queixo.”
Continue a leitura com um teste grátis de 7 dias
Assine A Formação da Pessoa para continuar lendo esta publicação e obtenha 7 dias de acesso gratuito aos arquivos completos de publicações.


