Conversas Sobre a Existência

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019. "E onde estava minha mãe enquanto eu via pornografia online?"

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Sobre a necessidade de arregaçar as mangas e proteger os nossos filhos dos efeitos nocivos das redes sociais.

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Cristiane Lasmar
jun 09, 2024
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Conversas Sobre a Existência
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019. "E onde estava minha mãe enquanto eu via pornografia online?"
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Na newsletter passada, introduzi o tema de A Geração Ansiosa: Como a Hiper Conexão da Infância Está Causando Uma Epidemia de Doenças Mentais, do psicólogo social Jonathan Haidt, livro que pretendo discutir detalhadamente com vocês. Haidt é o líder de um importante movimento de conscientização sobre os impactos das telas sobre as novas gerações. Para quem não leu o texto, aqui está.

Estamos vivendo um momento crucial, uma espécie de turning point na percepção da sociedade e das famílias a respeito desse assunto. É hora, portanto, de arregaçarmos as mangas.

A newsletter que você está recebendo hoje - e que só será lida na íntegra pelos assinantes que optaram pela modalidade paga - é um complemento, um adendo, à newsletter anterior. Mas é também um olhar detalhado sobre um ponto específico: qual é a responsabilidade imediata dos pais em tudo que está acontecendo com essa geração? Ou, de modo mais propositivo, o que eles podem fazer a respeito?

Aqui, apresento a minha visão, uma visão muito pessoal. Na próxima newsletter gratuita, volto ao conteúdo do livro de Jonathan Haidt.

O assunto do controle parental sobre o tempo e o uso das telas pelas crianças e jovens é muito complexo. O manejo da vida familiar e do processo de criação dos filhos não podem ser reduzidos a meia dúzia de fórmulas prêt-à-porter. Porém, o recado que eu quero passar é simples. O acesso da geração atual de crianças e adolescentes às telas, com todas as consequências nocivas que ele gera, não deve ser entendido necessariamente como efeito de uma demissão parental. Para os pais, não é fácil lidar com esse problema no dia a dia, por uma série de razões. Por outro lado, por limitadas que possam parecer as nossas possibilidades de ação, é apenas com elas que nossos filhos podem contar.

Ninguém se preocupará mais com a saúde existencial das crianças e dos adolescentes do que seus pais. Isso é tão verdade em relação às telas quanto em relação à saúde física. Se o seu filho está com febre, é você que deve levá-lo ao médico, tenha ou não responsabilidade pelo fato de ele ter se resfriado e pego uma pneumonia. Da mesma forma, se o seu filho passa muito tempo diante das telas, onde tem acesso a conteúdo inapropriado e insalubre para o seu desenvolvimento cognitivo, é você que precisa agir. Culpar o algoritmo ou as Big Techs não vai resolver o problema.

Há famílias que já se preocupam com isso há muito tempo? Sim. Há famílias que determinaram um regime de zero telas? Sim. A possibilidade de instituir um regime de zero telas está aberta a todas as famílias em mesma medida? Em tese, sim. Na prática, não.

Proibir terminantemente o filho de ter contato com as telas é uma decisão legítima, tão legítima quanto permitir que ele tenham algum acesso, um acesso controlado. Abandoná-lo os às telas, simplesmente “lavando as mãos”, é demissão parental.

Algumas circunstâncias favorecem a aplicação do regime de zero telas. Essa decisão é, sem dúvida, mais fácil para famílias numerosas, nas quais as crianças possuem meios de se distrair umas com as outras; para famílias em que as crianças não frequentam a escola, e em que todo - ou quase todo - o círculo de amizade dos pais está comprometido com um estilo de vida homeschool; para famílias nas quais um dos pais tem a disponibilidade de permanecer em casa e ocupar-se integralmente com a rotina dos filhos; ou, ainda, para famílias que residem em uma casa ou em um ambiente rural, em que as crianças têm contato com a natureza e liberdade para brincar e movimentar-se ampla e espaçosamente.

É claro que essas circunstâncias podem, em alguma medida, ser fruto de uma tomada de decisões, de um esforço de vontade, de uma hierarquização consciente das prioridades. Mas cada um sabe de si e de sua vida. E até que as circunstâncias mudem e permitam a adoção de um estilo de vida diferente do que vivemos habitualmente nas médias e grandes cidades, uma criança pode ter acesso a centenas ou até milhares de vídeos impróprios.

Educar não é fácil, e a facilidade não deve jamais ser o nosso principal critério. Porém, a realidade é que para a maioria das famílias urbanas a estratégia de cortar radicalmente as telas viria provavelmente acompanhada de uma série de problemas e conflitos potencialmente disruptivos, difíceis de lidar. A maioria dos pais quer o melhor para seus filhos, e tenho certeza que se dependesse somente da vontade das famílias, as crianças não estariam viciadas em telas. Como mãe de dois filhos e diretora de uma escola, tenho uma compreensão muito clara acerca dos diversos constrangimentos que nos tornam fracos diante do assédio e da atração exercida pelas telas na vida dos nossos filhos. Porém, o fato de existirem tantas forças que agem na direção contrária não nos exime da obrigação de orientar, alertar, ensinar nossos filhos a fazer um uso saudável das redes sociais, controlar o tempo de tela, supervisionar o conteúdo.                                                   

*          *          *

O mundo da tecnologia e das redes sociais é muito vasto, complexo e desconhecido para a maioria de nós, e é nessa falta de informação que reside grande parte da dificuldade de proteger os nossos filhos dos efeitos nocivos das telas. Os sistemas de proteção disponibilizados pelos próprios aplicativos, como os verificadores de idade, são muito ineficientes. Em um post recente no Substack After Babel, mantido por John Haidt, Ravi Iyer aborda a questão de como as grandes empresas globais de tecnologia como Apple, Google e Microsoft, poderiam ajudar os pais o sentido. No trecho que vou citar, ele comenta que a dificuldade de controlar o acesso dos filhos aos conteúdos veiculados, está presente até mesmo para quem trabalha nessas empresas:

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