011. A natureza e o manejo das emoções infantis
Um panorama conceitual para a abordagem da vida afetiva das crianças.
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Na última newsletter exclusiva (010), fiz algumas considerações a respeito das relações entre cognição e afetividade, demonstrando a interdependência entre esses dois aspectos da vida psíquica. Embora eles possam ser analisados e conceituados separadamente, a verdade é que os fatos afetivos exercem influência sobre os fatos cognitivos, e vice-versa. Uma afetividade organizada cria condições mais propícias para a aprendizagem, ao mesmo tempo em que o desenvolvimento da inteligência e o conhecimento de si são preditores de uma vida afetiva equilibrada, bem ordenada. Mas o que seria, afinal, uma vida afetiva bem ordenada?
Para conceituar o que seria uma vida afetiva ordenada, precisamos antes de mais nada entender qual é a matéria vital da afetividade. Em outras palavras, quais são os componentes que põem em movimento esse domínio do nosso psiquismo que estamos chamando de “vida afetiva”?
O núcleo substancial da vida afetiva de uma pessoa é composto por seus afetos, emoções e sentimentos. Portanto, é para esses fenômenos psíquicos que precisamos voltar a nossa atenção se quisermos auxiliar as nossas crianças no ordenamento de sua afetividade. É importante notar, porém, que a única forma de acesso aos afetos, emoções e sentimentos da criança é a observação cuidadosa de suas repercussões comportamentais. É a partir da análise do comportamento da criança, e de suas reações emocionais, que podemos ter uma noção do que acontece em sua vida afetiva.
Mas essa observação precisa estar informada por alguns conceitos norteadores. E é precisamente desses conceitos que vamos tratar aqui.
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A criança pequena é governada por seus afetos, os quais costumam se expressar por meio de reações psicofisiológicas que denominamos emoções.
Entendemos aqui por afetos as disposições internas que determinam o modo como a criança será afetada pelos estímulos que lhe chegam. Os estímulos podem ser externos, provenientes do ambiente, como sons, imagens, eventos, interações; ou internos (ao seu corpo psicofísico), como as sensações corpóreas, os sonhos, os estados de humor.
Essas disposições são, em parte, fixas, baseadas na própria constituição individual que acompanha a criança desde sempre e que chamamos de temperamento; e, em parte, circunstanciais, transitórias e históricas, recebendo aportes, respectivamente, do ambiente familiar e social, da faixa etária, e das experiências vividas e acumuladas pela criança. Ou seja, são muitos os fatores que respondem pelo fato de duas crianças poderem ser afetadas e reagir de modo muito diferente quando confrontadas com um mesmo fato ou situação. Essa multiplicidade de fatores, que, como eu já disse, abarca desde traços puramente individuais até aspectos circunstanciais e históricos, é o que responde pelo caráter único da vida afetiva de cada criança, de cada pessoa.
Assim definida a noção de afeto, podemos então dizer que a afetividade seria o sistema, a configuração dos afetos no psiquismo da criança, num determinado ponto do tempo. Mas como acessar os afetos da criança, como reconhecer essas disposições?
Até que a criança tenha desenvolvido um padrão de linguagem que lhe permita descrever os seus processos internos, só há uma via de acesso aos afetos: as emoções. Nesse modelo que estou propondo, as emoções seriam as expressões psicofisiológicas do fato da criança estar sendo afetada por algo.
Resumindo: os afetos (ou disposições internas) são tudo o que a criança pequena possui para reagir às impressões que lhe chegam do mundo. E, uma vez que ela os expressa por meio das emoções, para conhecer a vida afetiva da criança, é fundamental que prestemos atenção à sua vida emocional. Em outras palavras, a vida emocional é a ponta do iceberg, a manifestação imediatamente observável do que está acontecendo no sistema afetivo da criança, sobretudo (repito) das menores, que ainda não desenvolveram uma capacidade de linguagem que lhes permita falar sobre o que sentem. Por isso, qualquer trabalho com a afetividade da criança precisa tomar como gancho inicial a observação das emoções mais básicas.
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Segundo o psicólogo norte-americano Paul Ekman, autor do livro Emoções Reveladas, existem cinco emoções básicas e universais: alegria, tristeza, medo, raiva e nojo. A cada uma dessas emoções corresponde um determinado conjunto de respostas fisiológicas ligadas a um certo tipo de predisposição para a ação. Por exemplo, quando uma pessoa sente medo, o seu corpo sofre alterações súbitas que a predispõem à paralisia ou à fuga. Quando ela sente raiva, essas alterações a predispõem à reação violenta. Paralelamente, a cada emoção correspondem também alguns padrões de expressões faciais. Mesmo que a pessoa adulta, quando emocionada, tenha a capacidade de controlar a sua expressão facial mais ampla de modo que os outros não notem o que ela está sentindo, dificilmente conseguirá controlar as micro expressões visíveis ao psicólogo experimentado.
Não vou me estender aqui na descrição das emoções básicas, nem de suas correspondências fisiológicas, uma vez que já tratei longamente desse tema nas minhas primeiras newsletters gratuitas aqui no Substack. Nesse ponto, vou pedir a vocês que leiam os seguintes textos, clicando nos seguintes links:
Os movimentos da vida emocional
Mas como trabalhar as emoções com a criança?
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Sabemos que dar nome aos objetos do mundo é o primeiro passo no processo de conhecê-los. E com a realidade psíquica não é diferente. Por isso, quando a criança experimenta emoções como alegria, raiva, tristeza ou medo, é importante que a ajudemos a compreender o que ela está sentindo. Porém, devemos estar sempre atentos a dois riscos.
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